A WSL e o Strava revelam o esporte como símbolo de status
O lifestyle esportivo ganha valor social e se tornam códigos de pertencimento nas plataformas digitais
Olha, não tem mais como negar, o esporte virou o novo símbolo de status! Não estamos mais falando apenas de saúde, bem-estar ou performance, o que está em jogo agora é o lifestyle. As maratonas se tornaram o novo hype urbano, quase que uma nova liturgia secular das grandes cidades, compartilhar seus quilômetros no Strava ou sua largada às 5h da manhã é quase como postar uma selfie no desfile da SPFW. Para e pensa: quantas pessoas que você conhece participaram da última prova de corrida no Rio? Eu consigo listar pelo menos dez, e com facilidade.
O que temos testemunhado recentemente é uma reconfiguração simbólica do esporte enquanto uma linguagem cultural e um dispositivo de pertencimento social. O esporte virou linguagem, e como toda linguagem, comunica pertencimento, status e posição dentro de um campo simbólico mais amplo e é hoje uma expressão codificada de um ideal de vida. As maratonas, os clubes de corrida e provas funcionam como novos palcos sociais, na qual a performance física se converte em performance social. A estetização da vida ativa, nesse sentido, ganha potência nas redes sociais, sobretudo no TikTok, onde a viralização das rotinas de treino cria uma pedagogia do corpo idealizado. O esporte é mediatizado, estetizado e capturado pela lógica do capital de atenção, o que parece ser espontâneo é, na verdade, a camada mais visível de um sistema simbólico estruturado. Afinal, quando influenciadores que não correm são convidados para representar marcas em eventos de corrida, não estamos mais no território da prática esportiva, estamos no campo da produção de desejo.
O circuito mundial de surf em Saquarema exemplifica com clareza essa transição do esporte enquanto prática para campo que atua no âmbito cultural. O campeonato, antes voltado aos entusiastas do surf, tornou-se um megaevento onde o que menos importa são as baterias. A presença física no evento é uma forma de capitalização simbólica, estar ali, mais do que assistir, é pertencer a um recorte social específico, a uma comunidade de consumo, a uma estética de vida valorizada e altamente circulável nas redes. O aparato montado para esse tipo de evento busca apenas entreter, bem como capturar afetos e consolidar estilos de vida. Se no ano anterior quatro dias de shows em uma determina ativação do evento custavam X, hoje um único dia custa 4X. Não por uma elevação arbitrária de preços, mas porque o valor simbólico da experiência foi radicalmente inflacionado. Em tempos de TikTok, estar nas areias de Saquarema, não é só sobre surfar ou assistir ao surf, é sobre participar de um espaço culturalmente valorizado, onde se encena o status do corpo ativo, do lifestyle saudável, da agenda cheia de eventos "esportivos" que são, antes de tudo, sociais.
O acesso se torna mais restrito à medida que se torna mais desejado e a inflação simbólica é sintoma do deslocamento do esporte do campo da prática para o campo da simbólica social. Hoje, o que está em jogo não é a atividade em si, mas o que ela representa, o que ela comunica e a quem ela se destina. O esporte se converte em senha de entrada para uma nova ordem imaginária que valoriza a vida regrada, o corpo esculpido, o desempenho mensurável e, sobretudo, o capital social que tudo isso proporciona. Definitivamente, o esporte não é mais só esporte e quem não entende isso fica achando que está apenas treinando. A corrida, o surf, a musculação, a natação, todas essas práticas revestidas de camadas de sentido estético, midiático e mercadológico, deixam de ser apenas práticas corporais e se tornam práticas de afirmação social. O culto ao desempenho, a busca por pertencimento e a estetização da disciplina física nos mostram que o esporte está atravessado por dinâmicas que vão muito além da quadra, da pista ou do mar.